Campo Grande (MS) – Um dos presídios com maior número de custodiados no Estado, o Instituto Penal de Campo Grande (IPCG) tem priorizado o trabalho prisional como ferramenta para a reinserção social e transformação de vida de detentos. Atualmente, as 17 oficinas laborais existentes no local garantem oportunidade de labor llícito da massa carcerária.
“Hoje temos 424 internos que exercem algum tipo de trabalho dentro da unidade, a rotina aqui começa bem cedo, antes mesmo do sol aparecer”, informa o chefe do setor de trabalho do estabelecimento prisional, agente penitenciário Alexsander Vega e Moraes.
Grande parte dos serviços são executados por meio de parcerias entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e empresas privadas, que encontraram na mão de obra prisional um meio de reduzir custos e contribuir para a diminuição da reincidência criminal.
Para os reeducandos, a ocupação é encarada como uma maneira de amenizar a pena, além de ocupar o tempo ocioso, melhorando a disciplina no cárcere com a mudança de hábitos e comportamentos. “Aqui dentro eu me esforço, sempre ofereço o melhor, e foi trabalhando que consegui ter mais disposição para encarar a vida de forma diferente”, afirma Adaílton da Mata Souza, que está recluso há nove anos e no momento trabalha na fábrica de gelo.
O empresário Lucas Zago também vê muitos motivos para comemorar a aposta na mão de obra prisional. Com ocupação de 23 reeducandos no descasque e embalagem de mandioca, ele atinge uma produção diária de duas toneladas do produto. “Consigo uma quantidade boa de trabalhadores e para eles também é bom, porque ocupam o tempo, ganham remição da pena e dinheiro para ajudar a família lá fora”, argumenta .
Perfil Laboral
Basta adentrar no Instituto Penal de Campo Grande para perceber que o presídio possui um perfil voltado ao trabalho de detentos. Ao longo dos pavilhões já é possível observar as mãos ágeis dos costuradores de bolas. São 76 internos envolvidos no trabalho diário, realizado nas próprias celas e solários.
Móveis rústicos e planejados também são confeccionados pelos custodiados na marcenaria, entre bancos, mesas, cadeiras, armários embutidos e sofás, contribuindo para que os detentos aperfeiçoem ou adquiram novos conhecimentos.
“É uma forma de ter uma perspectiva melhor de vida, o trabalho nos motiva muito”, enfatiza Roberto Viana Pereira, que há nove anos se dedica ao ofício de marceneiro e ensina a profissão a companheiros de cárcere.
Na padaria, outra oficina laboral do IPCG, a dedicação de sete internos garante a produção diária de 1.500 pães, destinados ao consumo no estabelecimento penal e para abastecer uma creche do bairro Jardim Noroeste. O trabalho é encarado como uma chance de profissionalização para quando conquistarem a liberdade.
“A ideia é estar capacitado para o mercado de trabalho e sou muito grato por essas oportunidades”, afirma Edson Martinez Gonçalves, que está há oito anos na unidade prisional. Além de aprender na prática o ofício de padeiro, ele conta que já participou também de cursos nas áreas de pizzaiolo, salgadeiro e de transações imobiliárias.
No Instituto Penal, além da fábrica de gelo, descasque de mandioca, padaria e marcenaria, os detentos atuam, ainda, em atividades na cozinha, manufatura de crinas e produção de vassouras, artesanato e armação de ferragens. Também realizam serviços de manutenção, limpeza e apoio administrativo, entre outros.
Dados Estaduais
Atualmente em Mato Grosso do Sul, 32,4% dos custodiados da Agepen trabalham, entre reeducandos dos regimes fechado, semiaberto e aberto; índice que supera a média nacional que gira em torno de 22%. De acordo com a chefe da Divisão do Trabalho da Agepen, agente Elaine Cristina Souza Alencar Cecci, são 168 parcerias firmadas com empresas.
Para exercer atividade laboral, o interno deve estar no mínimo há seis meses na unidade prisional. Além disso, também são avaliados quesitos importantes como bom comportamento, habilidade e conhecimento, análises que são realizadas pela Comissão de Tratamento e Classificação (CTC), formada por psicólogos, assistentes sociais e chefia de disciplina, além da própria chefia do trabalho e da direção do presídio.
Conforme o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, o trabalho é um dos focos da instituição para a reinserção social. “Também existem alternativas como cursos profissionalizantes, aulas escolares, leituras e as ações culturais e religiosas. São atividades que, em conjunto, ajudam no processo de ressocialização”, finaliza.
Texto: Tatyane Santinoni e Keila Oliveira.
Fotos: Tatyane Santinoni