Campo Grande (MS) – Parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) possibilita a realização de um projeto que, de forma humanizada, busca o controle populacional de gatos no Complexo Penitenciário de Campo Grande. A iniciativa consiste na castração e outros cuidados com os felinos e foi idealizada pelas agentes penitenciárias Carla Gameiro Alves e Edilena da Rocha.
Levantamento feito pelas idealizadoras do projeto apontou que cerca de 150 felinos “habitam” as redondezas dos quatro presídios do Jardim Noroeste. Eles chegam até o local por frestas de portões ou durante a entrada de veículos e, instalados no local em busca de comida, acabam se reproduzindo.
Porém, o crescimento indiscriminado do número de animais pode ocasionar doenças para detentos, servidores e visitantes. Uma fêmea, por exemplo, ao longo da vida, pode ter até 200 filhotes, o que, em longo prazo, poderá gerar um grande problema para o sistema prisional.
A simples retirada dos animais, contudo, não resolveria o problema, já que, em pouco tempo, outros ocupariam o lugar. “Os gatos que ali se mantém, por serem os felinos de natureza territorial, impedem que outros se aproximem do local, assim, se castrados, esta população estará controlada por muitos anos”, explica a agente Carla, que é zootecnista por formação.
Carla defende que a permanência dos gatos, de forma controlada e com cuidados sanitários necessários, é benéfica pois acaba contribuindo para o controle na quantidade de roedores e outras pragas nos presídios. Segundo ela, durante os levantamentos para o desenvolvimento do projeto, não foi constatada a ocorrência de maus-tratos por parte dos presos aos animais, tão pouco o uso dos bichos para qualquer atividade ilícita ou inadequada à disciplina e segurança.
Outro fator importante, aponta a agente penitenciária, é que o cuidado com os animais acaba refletindo na disciplina dos presos, pois cria laços de afeto e aprimora seu senso de responsabilidade. “Existem inúmeros estudos que revelam que crianças, idosos, enfermos, adictos, deficientes e pessoas em situação de cárcere são beneficiadas mental, social e emocionalmente pelo convívio com animais domésticos”, defende.
De acordo com o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, desde o início deste mês, a parceria com o CCZ possibilita que, regularmente, o centro de controle libere duas vagas diárias para que os gatos das penitenciárias sejam castrados. Conforme Stropa, apesar da liberação das vagas, foi necessário que se encontrasse formas de arrecadar recursos para ajudar na operacionalização para o transporte dos gatos até o CCZ. “Os servidores se organizaram entre si para obter recursos. Foi uma grande iniciativa”, parabeniza o dirigente.
Para garantir que parte desse dinheiro fosse levantado, as idealizadoras fizeram uma ação entre amigos com o sorteio de uma joia doada pela agente Edilena, que ajudou a encabeçar o projeto devido ao grande carinho que tem por gatos, já que cria cinco deles que encontrou em situação de abandono. “O sorteio foi mais simbólico, pois os colegas de trabalho, ao saberem da proposta, quiseram contribuir participando da ação”, comenta Edilena.
Com os recursos arrecadados, foram adquiridas gatoeiras, sacos de algodão e redes para o manejo de felinos, além de caixas de transportes. Os materiais estão sendo disponibilizados por períodos a cada presídio do complexo, cuja administração é responsável pelo transporte. A primeira unidade prisional a fazer os encaminhamentos está sendo o Instituto Penal de Campo Grande.
Expansão do Projeto
Apesar de já representar uma ação significativa, as autoras do projeto pensam na expansão da iniciativa, pois em todo o Estado há a mesma ocorrência de gatos e cachorros abandonados que se abrigam em estabelecimentos penais, com o agravante de não haver castração gratuita pelo CCZ no interior.
“Pesquisamos e descobrimos projetos como o castramóvel, um ônibus equipado para fazer os procedimentos. Seria muito interessante conseguirmos um desses para percorrer outros lugares”, disse Carla.
Segundo a agente penitenciária, municípios como Sorocaba (SP), Juiz de Fora (MG) e Rio de Janeiro levaram adiante essa proposta e já estão com o equipamento em funcionamento. “Identificamos também que a Holanda foi um dos primeiros países a não ter animais abandonados na rua e fomos entender como isso aconteceu para tentar adaptar para cá”, comentou.
Conquistar essa nova etapa, porém, ainda depende de mais parcerias. Para isso, as duas agentes estão conversando com organizações não governamentais de defesa dos direitos dos animais.
Texto e foto: Keila Rodrigues/ Assessoria Agepen