Campo Grande (MS) – A criatividade e o talento em prol do meio ambiente e da ressocialização. Assim está sendo o trabalho desenvolvido no Centro de Triagem Anísio Lima, onde paletes de madeira provenientes de caixas que seriam jogadas fora são matéria-prima para a produção de móveis e objetos para decoração de jardim. A ação, além de ser uma excelente forma de reaproveitamento de materiais, contribui para a ocupação produtiva dos internos, gera ganho financeiro e proporciona qualificação, representando um fator de reinserção social.
A atividade teve início na unidade penal há pouco mais de um mês e ainda acontece de maneira tímida, tendo no momento apenas quatro internos trabalhando na confecção dos objetos. A cada três dias trabalhados, eles ganham um dia de remição na pena a ser cumprida, além de retorno financeiro com percentual repassado a cada venda das peças.
“Isso demostra que o trabalho por mais simples que seja, pode representar fonte de renda lícita e nobre”, destaca o diretor presidente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Ailton Stropa Garcia. “A Agepen usa de todos os meios possíveis e imagináveis para promover a reinserção social de seus custodiados, os preparando profissionalmente”, completa.
Para começar o projeto, a direção da unidade prisional adquiriu ferramentas necessárias ao trabalho dos internos, utilizando recursos provenientes de outro sistema utilizado no presídio e que contribui com o meio ambiente: a reciclagem, com investimento de aproximadamente R$ 2 mil. Os primeiros paletes utilizados foram doados pela Riomar Tintas, mas a direção do estabelecimento penal chegou a ter que comprar alguns de outras empresas para dar continuidade à produção.
Conforme o diretor do Centro de Triagem, Francisco Alírio do Carmo, as peças produzidas são geralmente vendidas a servidores, advogados e pessoas que, por algum motivo, fazem parte da rotina do estabelecimento prisional. O dinheiro arrecadado está sendo revertido em prol dos reeducandos que trabalham na produção e para a compra de materiais necessários à montagem e acabamento das peças, como parafusos, lixas e verniz. “Nos primeiros 30 dias confeccionamos, aproximadamente, 20 objetos”, informa Francisco.
A técnica, inicialmente, está sendo ensinada aos demais por um interno que tem conhecimentos na área de marcenaria. A intenção é que pelo menos 10 reeducandos possam ser inseridos na atividade. “Apostamos na ocupação produtiva de nossos reeducandos como uma forma de manter a disciplina e prepará-los para retorno ao convívio em sociedade”, destaca Francisco, informando que para trabalharem no projeto, além da aptidão e do tempo mínimo de permanência exigido, também é levado em consideração o bom comportamento.
O reeducando Hélio Lourenço Grisoste, 42 anos, é o marceneiro responsável por coordenar os trabalhos e ensinar aos demais todas as técnicas necessárias. Ele garante que o trabalho está sendo uma oportunidade importante. “Representa tudo para mim, ganho remição e fortalece a minha autoestima; esse trabalho me fez enxergar o quanto eu sou capaz como marceneiro, que posso ajudar outras pessoas com a minha profissão e que não tem necessidade de eu estar envolvido com coisas erradas novamente”, garante.
Heitor Bruno Boeno de Oliveira, 24 anos, também está trabalhando na oficina. Sem nenhum conhecimento na área até iniciar nesse trabalho, ele conta que a oportunidade o está ajudando bastante neste momento. “Para mim é inspiração, fico o dia todo ocupado, é uma forma de eu mudar meus hábitos, não vincular a nenhuma atividade que seja relacionada ao crime, pois é uma nova profissão que estou adquirindo”, afirma. “Quando eu vejo as peças prontas fico animado, me dá vontade de trabalhar cada vez mais, com serviços cada vez melhores, e que eu possa cada vez ganhar mais dinheiro com isso”, completa.
Atualmente no CT, aproximadamente 47% dos reeducandos estão inseridos em atividades laborais, atuando em oficinas de artesanato, reciclagem serviços de manutenção, entre outros.
Serviço
Para os interessados em adquirir peças produzidas na unidade prisional, o Centro de Triagem Anísio Lima está localizado na Rua Indianápolis, S/N. O telefone do presídio é o: (67) 3901-3437.
Keila Oliveira