Campo Grande (MS) – Detentos do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira já iniciaram os trabalhos de reforma da Escola Estadual Flavina Maria da Silva, no Jardim Botafogo. A ação faz parte do projeto “Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade”, realizado por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Poder Judiciário, Conselho da Comunidade e secretarias de Estado de Educação (SED) e de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast).
Idealizada pelo juiz Albino Coimbra Neto, da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, a iniciativa, inédita no País, consiste na utilização de mão de obra prisional para a reforma de escolas públicas de Campo Grande. Os recursos para compra de materiais utilizados são oriundos de parte do salário pago a todos presos que trabalham na Capital, no qual o percentual de 10% de desconto é instituído pelo Poder Judiciário para ser aplicado neste tipo de projeto.
O diretor de Assistência Penitenciária da Agepen, Gilson Martins, explica que, conforme convênio firmado, o governo do estado fica responsável pelo repasse ao Conselho da Comunidade, através da Sedhast, de um salário mínimo a cada interno que trabalhar na obra.
Com cerca de 550 alunos, a escola de ensino médio do Jardim Botafogo é a quarta da Capital a ser beneficiada com o projeto, que já atendeu também as escolas estaduais Padre Mário Blandino, no aero Rancho, Delmira Ramos, no Bairro Copavilla II, e Brasilina Ferraz Mantero, no Jardim Leblon.
Orçada em R$ 97,6 mil, a obra abrangerá pintura, poda de árvores e reforma geral das salas de aula, setor administrativo e quadra de esportes coberta. Além disso, serão construídas duas coberturas, uma delas na entrada da escola e outra entre o pavilhão administrativo e as salas de aula.
De acordo com o diretor do Centro Penal da Gameleira, Tarley Cândido Barbosa, que – junto com os agentes penitenciários Giorgio Henrique de Almeida e Marcelo de Oliveira Vianna – coordena os trabalhos, com a reestruturação, será implantado um sistema de coleta de agua da chuva para ser utilizada na limpeza do pátio e irrigação de uma horta que será construída no local. “Também haverá mudança no sistema de iluminação, o que garantirá diminuição no consumo de energia”, informa o dirigente.
Treze detentos trabalham no local, escolhidos por bom comportamento e habilidades profissionais necessárias para atuarem na reforma do prédio. Além de um salário, a cada três dias trabalhados eles recebem um dia de redução da pena.
Participando pela terceira vez do projeto, o custodiado do regime semiaberto Marcelo Dias da Silva, 37 anos, garante que a cada novo trabalho fortalece a satisfação em estar inserido em uma ação tão positiva. “É muito gratificante saber que estamos contribuindo com o nosso conhecimento profissional para a melhoria na educação de muitas crianças”’, afirma. “Percebo também que a sociedade passa a enxergar a gente com outros olhos, não nos vê em apenas como que cometeu crime, mas sim como pessoas que estão dispostas a recomeçar, trabalhando e fazendo coisas boas”, completa.
O diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, esteve na escola Flavina Maria da Silva acompanhando as obras. Segundo ele, além de proporcionar uma expressiva economia aos cofres públicos, o projeto ajuda a fomentar a educação com espaços mais estruturados aos estudantes e incentiva a reinserção social de detentos por meio do trabalho.
Para o diretor da escola, Everado Monteiro, o trabalho que está sendo desenvolvido pelos reeducandos irá proporcionar melhores condições de aprendizado. “Traz uma qualidade melhor de trabalho para os professores e acaba despertando mais o interesse dos alunos em permanecerem na escola”, comenta. “Estamos muito felizes”, finaliza.
Keila Oliveira – Agepen