Campo Grande (MS) – Cabelos tratados, unhas esmaltadas e depilação em dia. Rituais de beleza que fazem parte da rotina de qualquer mulher que gosta de se manter bonita não deixam de existir mesmo entre as que estão em situação de prisão. Basta percorrer os corredores do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ), na Capital, para perceber que nem mesmo as grades e o isolamento da sociedade abatem a vaidade feminina.
“Não é por que a gente está presa que a gente vai deixar de se cuidar. Quando você está bonita você fica melhor, quando está desarrumada você fica para baixo”, declara a interna Valdinéia do Carmo Souza, que se preocupa em manter a cor dourada dos cabelos e sempre está com um batom colorindo os lábios. “Também gosto de cuidar das sobrancelhas, até fiz um curso de designer aqui no presídio”, revela.
Os cuidados com a beleza refletem diretamente na autoestima das custodiadas, na opinião da diretora do presídio, Mari Jane Boleti Carrilho, já que faz parte da essência feminina. A dirigente destaca que muitas internas se arrumam apenas para se sentirem bem com elas próprias, já que são poucas as que recebem visitas de esposos ou namorados, e a presença masculina, seja de pais ou irmãos, também é mínima na unidade.
Como uma forma de estimular os cuidados pessoais, a direção do presídio até adaptou um salão de beleza, anexo a uma oficina de trabalho, onde são realizados serviços como manicure, sobrancelha com henna, cortes de cabelo, tintura e alguns tipos de químicas. Dentro da estrutura, também existe um espaço reservado para a realização de depilação. Os serviços não são gratuitos, pois é necessário custear os materiais utilizados, bem como remunerar as internas que trabalham no local.
No salão do EPFIIZ, são cerca de 100 atendimentos por mês, segundo a interna Keila Escobilha, que é cabeleireira por profissão e realiza a maior parte dos serviços. “Elas ficam mais animadas e esperançosas de irem embora, a autoestima vai lá em cima”, comenta. Para a detenta, o salão também é uma oportunidade de trabalhar e aperfeiçoar o seu ofício. “Me sinto muito bem em trabalhar aqui no salão, é muito bom ver as meninas felizes e satisfeitas com o resultado. É o meu trabalho, é o que eu gosto de fazer, e posso melhorar cada vez mais”, diz, revelando que participou de alguns cursos de aperfeiçoamento na unidade prisional, como depilação e designer de sobrancelha com henna.
Perfil
Conforme dados do Mapa Carcerário da Agepen, elaborado pelo Núcleo de Informações Criminais, em Mato Grosso do Sul, o sexo feminino representa 8% da massa carcerária e grande parte está presa por tráfico de entorpecentes, correspondendo a 85% do total de crimes praticados pelas mulheres.
Levantamentos estatísticos realizados pela Agepen apontam que a maioria das mulheres em situação de prisão tem entre 18 e 30 anos (51%) e não concluíram nem mesmo o ensino fundamental (56%). A metade delas tem baixa condenação, variando entre 4 e 8 anos.
Keila Oliveira Assecom/Agepen