Campo Grande (MS) – A solidariedade somada ao trabalho minucioso realizado nas mãos de homens e mulheres que cumprem pena nos presídios de Mato Grosso do Sul têm levado mais esperança e segurança a pessoas em situação de vulnerabilidade na luta contra o novo coronavírus. Até o momento, mais de 1,2 mil máscaras produzidas por detentos já foram doadas a instituições sociais.
A iniciativa acontece graças à atuação da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), por meio da Diretoria de Assistência Penitenciária, e conta com apoio de órgãos públicos e empresas parcerias com a doação de insumos.
O trabalho voluntário garante mais dignidade tanto para quem recebe o material quanto para quem confecciona também. É o que revela o interno Walter Romeiro da Rocha Júnior, 37 anos, que cumpre pena no Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho” há mais de quatro anos e iniciou suas habilidades no corte e costura há dois meses.
“Poder ajudar, de alguma forma, quem está realmente precisando lá fora me traz uma satisfação que não tem preço. Decidi aprender e hoje eu e mais sete colegas produzimos mais de 200 máscaras por dia, trabalhamos duro, mas o que nos motiva é a possibilidade de ajudar o próximo”, afirmou.
No presídio, além das máscaras em tecido e TNT, também são confeccionados uniformes como capotes, gorros, propés, calças, privativos e aventais, proporcionando trabalho a mais oito internos. As peças são doadas ao Hospital Regional de Mato Grosso do Sul e à Secretaria Estadual de Saúde (SES).
A Sociedade de Integração e Reabilitação da Pessoa Humana (Sirpha) – Lar do Idoso, no bairro Nova Lima, foi uma das instituições contempladas. Ao todo, foram entregues 200 máscaras para auxiliar os profissionais do local durante o atendimento oferecido aos 84 idosos.
Segundo a assistente social do asilo, Suzana Saucedo, é muito grande o volume necessário de máscaras para cuidar dos idosos, então essa doação vai contribuir muito para os funcionários do asilo, assim como, de alguns idosos que são conscientes e conseguem manter a máscara no rosto. “Temos um custo muito alto aqui e as doações têm sido essenciais para manter o trabalho e garantir a segurança de nossos idosos”, garantiu.
Atualmente, atendendo 195 pessoas entre crianças, jovens e adultos com paralisia cerebral grave ou sequelas neurológicas, vindas de famílias carentes, a Cotolengo Sul-Mato-Grossense também recebeu a doação de 175 máscaras.
O material foi entregue, pessoalmente, pelo diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, ao padre Valdeci Marcolino, que está no comando da instituição há 4 anos.
Conforme Aud, a ocupação produtiva de reeducandos, seja remunerada ou não, incute novos valores e mudança de comportamento. “É um processo intrínseco, que vai sendo construído conforme o andamento das atividades e essa é a nossa intenção, de devolver à sociedade pessoas melhores e com a consciência de seguir a vida de forma mais digna”, destacou o dirigente.
Na Maternidade Cândido Mariano, na capital, foram entregues mais 380 máscaras de proteção para auxiliar os profissionais de saúde durante os atendimentos realizados com pacientes de todo o estado. Já na Casa da Mulher Brasileira foram distribuídas 350 peças, como parte das ações sociais de auxílio à prevenção da Covid-19. No local, atuam cerca de 250 profissionais e atendem a uma média de 100 pessoas todos os dias.
Em Jateí, o Lar do Idoso também foi contemplado com 100 máscaras de proteção produzidas por internas do Estabelecimento Penal Feminino “Luiz Pereira da Silva”.
Ao todo, estão em funcionamento 21 polos de produção em unidades penais da capital e do interior graças às inúmeras parcerias firmadas pela agência penitenciária. Além das instituições sociais, a produção também atende prefeituras de diferentes municípios, Secretaria Estadual de Saúde, secretarias municipais de saúde, hospitais públicos e privados, órgãos públicos e a própria demanda do sistema penitenciário estadual.
Todos os reeducandos que atuam nas oficinas de produção dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) recebem remição de um dia na pena a cada três trabalhados, conforme previsto na Lei de Execução Penal.
A produção dentro das unidades penais conta com o apoio da equipe do infectologista Júlio Croda, Mariana Croda e enfermeiro e doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias, Everton Ferreira Lemos; assim como, do secretário e adjunta da SES, os médicos Geraldo Resende e Christine Maymone, além do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Poder Judiciário e Ministério Público, por meio do juiz Albino Coimbra Neto e da promotora Renata Ruth Goya Marinho; da Associação dos Magistrados de Mato Grosso do Sul (Amamsul) e da Associação Sul-Mato-Grossense do Ministério Público (ASMMP).
Tatyane Santinoni e Keila Oliveira – Agência Estadual de Administração Penitenciária de MS- Agepen