Campo Grande (MS) – Considerado um dos principais males da vida moderna, o sedentarismo traz grandes prejuízos para a saúde do corpo e da mente. No ambiente de encarceramento, a desmotivação para movimentar-se acaba sendo ainda mais presente. As consequências vão desde irritações, que aumentam atos de indisciplina e prejudicam a segurança, ao agravamento e surgimento de doenças crônicas entre os internos.
Para estimular a prática esportiva entre os detentos, a Agência Estadual de Administração Penitenciária (Agepen) – em parceria com as secretarias estaduais de Saúde (SES) e Educação (SED) – está desenvolvendo, há um ano, um projeto específico de educação física, que já beneficiou cerca de 200 reeducandos nesse período.
O projeto é coordenado pela Diretoria de Assistência Penitenciária da Agepen, por meio da Divisão de Saúde, com o apoio da Divisão de Educação, e é realizado nas unidades prisionais de regime fechado de Campo Grande, com o auxílio da direção do Módulo de Saúde do Complexo Penitenciário.
Para o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, apesar de ser um projeto que existe desde o ano passado, por ser ano de olimpíadas, quando toda a nação está voltada para o evento, é um estímulo para aumentar a prática de atividades físicas no sistema prisional. Segundo o dirigente, além de trazer benefícios diretos para os detentos, a iniciativa atende à política de transversalidade entre as secretarias do Estado.
O educador físico responsável pelos trabalhos, Thiago Rodrigues, explica que as aulas consistem em atividades de alongamento, relaxamento e exercícios aeróbicos, que elevam a frequência cardíaca, estimulam a respiração correta e promovem uma melhora no bem-estar físico. “Trabalhamos com a ginástica funcional. Nosso foco é sair do sedentarismo e melhorar a qualidade de vida”, destaca o profissional. “São atividades que eles podem realizar também nos dias que não têm o projeto, durante o horário do banho de sol”, completa.
“Está sendo ótimo para mim; quando comecei estava quase entrevada da coluna, até a minha pressão melhorou”, afirma a reeducanda Nivalda Tolentina de Oliveira, 58, presa no Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi por tráfico de entorpecentes. Ela é uma das 30 internas que participam das aulas duas vezes por semana no presídio.
Como é impossível todos os custodiados participarem, a seleção é feita pelo Setor de Saúde do presídio, além da indicação da equipe de psicólogas e assistentes sociais, e têm como critérios principais atender doentes crônicos e obesos.
Com 136 kg, diabética, tabagista e com um infarto do miocárdio em seu histórico médico, Lucélia de Oliveira, 37 anos, foi uma das selecionadas para participar e garante que está sentindo os benefícios. “O corpo responde melhor, tenho mais fôlego e consigo desempenhar atividades que já não conseguia mais”, revela, informando que tem como meta perder pelo menos 40 kg. “Sei que é difícil, mas só de estar me movimentando, já me ajuda bastante”, diz. “É um desafio constante que eu tenho que superar e melhorar”, completa.
Presa quando tentava entrar com droga no presídio para o filho, Cecília Tominati Miranda, 66 anos, é a mais idosa do grupo que pratica atividades físicas monitoradas no presídio feminino da Capital. Além dos benefícios para a saúde, a reeducanda afirma que as atividades ajudam a eliminar o estresse, que, segundo ela, é muito grande no ambiente de confinamento. “É um momento de descontração e que também me ajuda a viver melhor, pois percebi que diminuiu a minha falta de ar e cansaço, que eu tinha muito, estava sem ânimo pra nada. A minha pressão também está bem melhor”, afirma,
Nas quatro unidades do complexo penitenciário do Jardim Noroeste (Máxima, Instituto Penal, Centro de Triagem e Presídio de Trânsito), os trabalhos também são acompanhados pela equipe do Módulo de Saúde. “Na Máxima, por exemplo, desenvolvemos atividades em conjunto com o projeto realizado pelo Módulo com os presos que são doentes mentais”, destaca o educador físico.
De acordo com a direção da agência penitenciária a intenção é que, no futuro, os trabalhos possam ser estendidos a todas as unidades prisionais do Estado.
Texto: Assessoria/ Agepen