Nesta semana a notícia de uma promoção na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul provocou um sentimento de orgulho em todos os sul-mato-grossenses e, principalmente, nas mulheres. Pela primeira vez na história da Corporação, uma policial foi alçada ao posto mais alto do Comando da PMMS.
Aos 45 anos e um importante currículo, a então tenente-coronel Neidy Nunes Barbosa Centurião que nasceu em Coxim e entrou no para a corporação aos 17 anos em Costa Rica, se tornou a Coronel Neidy Nunes Barbosa Centurião.
Representante de uma categoria especial de mulheres que lutam por espaços, principalmente em setores historicamente masculinos, a Coronel não abriu mão de constituir família. E conseguiu, de forma brilhante, conciliar o casamento e os filhos, hoje com 17 e 19 anos.
Tamanha dedicação, segundo ela, é fruto da boa educação que recebeu. “Minhas orientações são de berço, estão ali arraigadas no meu ser”, descreve, reconhecendo também o valor do aprendizado que recebeu da instituição. “Ela me ensinou e me treinou tudo que sei”.
E, claro, sente muito orgulho por alcançar um posto num lugar historicamente dominado pelos homens. “Sou muito grata à todas as mulheres precursoras na carreira que por muito tempo foram alvos de preconceitos”. Para a Coronel Neidy, será uma grande responsabilidade representá-las.
Depois de muito estudo e uma brilhante carreira que inclui passagens pela Companhia de Trânsito, Policiamento Montado, 1° Batalhão, Comunicação Social, comando da Cavalaria e o Subcomando da PM de Corumbá e do Batalhão Rodoviário, além da Policlínica e a fundação do Centro de Equoterapia da PMMS, a Coronel colhe os louros que plantou ao longo desses 27 anos. “Era meu sonho ser coronel e eu me preparei para isto”, resume.
A seguir a entrevista exclusiva que ela gentilmente concedeu ao Portal MS
Qual o critério usado para se alcançar a mais alta posição na PMMS?
Promoções ocorridas com interstícios definidos e escolhas por tempo de serviço e merecimento através da pontuação somada com o decorrer do tempo, cursos realizados e conceitos somados no decorrer da carreira.
O que levou a Senhora a escolher este caminho profissional aos 17 anos?
Na época em que fiz o concurso o que me motivou foi a necessidade de melhorar de vida. Não havia muitas oportunidades para cursar uma faculdade na época. Mas com o passar do tempo fui me apaixonando pela instituição. Então o que seria um trampolim, digamos assim, acabou se tornando a minha paixão e a minha vida.
Qual a maior dificuldade (ou as maiores) para uma mulher se destacar num ambiente historicamente masculino?
Estamos construindo nosso local de trabalho, inclusive junto à população, que por vezes não aceita o atendimento feminino oferecendo resistência.
Alguma vez foi colocada em xeque sua capacidade profissional pelo fato de ser mulher?
O centro de equoterapia é um serviço extraordinário e muito valioso para as crianças e suas famílias. O que motivou a senhora a criação deste centro?
Foi o meu marido (que hoje já está na reserva da Polícia Militar) que na época fazia parte da Cavalaria, quem me despertou para isso. Ele fez o curso de equoterapia na Ande-Brasil em Brasília, e trouxe a ideia de fundar o Centro. Na época eu estava de licença maternidade. Mas em seguida, junto com uma equipe formada por fisioterapeutas, psicólogos, pedagogos e profissionais de equitação também fizemos o curso. Hoje temos uma excelente equipe e eu passei a ser voluntária.
De toda a sua experiente carreira qual foi a tarefa que mais lhe trouxe desafios?
Trabalhar na unidade de saúde (Policlínica da Polícia Militar) tendo que superar a falta de conhecimento técnico. Enfrentei muita dificuldade no princípio. Mas a experiência acabou completando meu currículo.
Qual é a sua maior inspiração no trabalho?
A possibilidade de sempre poder ajudar as pessoas. Atender o próximo e interagir, resolver problemas, salvar a vida das pessoas, que estão ali esperando socorro, são coisas que me inspiram.
A Senhora esperava alcançar este posto?
Eu sempre sonhei em ser coronel. Por isto trabalhei, estudei muito e me capacitei para isto.
O que a Senhora gostaria de mudar ou fazer pelo País?
Gostaria de diminuir a dependência química que tanto desestrutura as famílias brasileiras.
Theresa Hilcar, Subcom
Fotos: Saul Schramm