Campo Grande (MS) – Por excelência, eles ocupam lugar de destaque quando o assunto é companhia. O melhor amigo do homem é capaz de nos fazer tão bem que é impossível ignorar as sensações dessa relação quase simbiótica. Pesquisas apontam diversos benefícios ao homem quando acontece esse contato entre cão e dono. A liberação de ocitocina, conhecida como hormônio do amor, é uma das comprovações químicas desencadeadas por essa troca verdadeira de sentimento e os benefícios são inúmeros ao corpo e mente.
Diante de tantos efeitos positivos, surgiu a Cinoterapia, modalidade antiga de terapia assistida por animais, onde eles funcionam como co-terapeutas. Os cães Otto e Chopp, da raça Golden Retriever, conhecem bem a técnica, já que são integrantes do projeto “Cão Herói, Cão Amigo”, do Corpo de Bombeiros de Campo Grande. De tão especial, o projeto já tem até fila de espera.
As lambidas e o carinho gratuitos que distribuem a qualquer um que se aproxime, acabou se tornando ofício, função que cumprem com louvor. Outros 24 cachorros estão habilitados para o trabalho e completam a matilha do “Cão Herói, Cão amigo”.
Com o objetivo único de buscar a reabilitação e contribuir significativamente para melhoria da qualidade de vida, os cães são utilizados como mediadores no processo de restabelecimento de pacientes com paralisia cerebral, autismo, síndrome de down, pacientes com traumatismo craniano e limitação de movimentos.
O responsável pelo canil do Corpo de Bombeiros, o sargento Thiago Kalunga, explica que os cães inscritos trabalham uma vez por semana: “Eles são escalados para alguns dos locais onde o projeto atende como o Cotolengo, que possui crianças com paralisia cerebral grave. Também visitam a Escola Municipal Múcio Teixeira Júnior, onde muitos alunos matriculados possuem algum tipo de necessidade além do Hospital São Julião”.
Na última visita da semana, Coroline Moreira, dona do Otto, não segurou as lágrimas. Voluntária dos do projeto “Cão Herói, Cão Amigo”, ela conta que se emocionar já faz parte da rotina das visitas: “Nessa última visita ao Cotolengo, eu chorei. As crianças adoram o Otto. Mesmo com toda dificuldade que elas possuem, tentavam levantar ele, para brincar. É muito emocionante presenciar essa cena. Faz muito bem para eles, mas para nós, ainda mais”, garantiu a dentista de 27 anos, dona de mais seis cachorros.
As lágrimas são unanimidade entre os privilegiados que acompanham o projeto. No encontro com os pacientes o que se vê é muito mais do que carinho, garantem os voluntários. A ternura dos cães transborda a alma e leva aos corações o mais puro amor. “As crianças amam. Quando os cachorros chegam eles ficam inquietos de tanta alegria”, lembra Caroline.
Mas depois de tanto trabalho, chega a vez do descanso e também do sucesso, por que não? Passear com o Otto, seja no shopping ou em qualquer outro lugar, sem que alguém não fique enlouquecida com o galã de quatro patas é impossível, segundo Caroline. Mas na hora do trabalho, Otto já sabe que é hora de se aprontar. “Ele espera no sofá quando vou colocar o colete. Já sabe que é hora da visita”.
Com Chopp, a história do sucesso não é nada diferente. O Golden de dois anos é, além de profissional, figura pública nas redes sociais e já tem mais de 2 mil seguidores no Instagram. As fotos no seu perfil são de enlouquecer e estourar o “fofurômetro”. Nos registros da sua rede social, Chopp parece até um modelo competente quando o assunto são fotos.
Caroline, Otto, Chopp e Orlando.”Estamos no projeto desde 2017. É muito bom fazer parte disso. Levar alegria para essas crianças”, falou o dono do Chopp, o empresário Orlando Branchi Camy, 29 anos. Orgulhoso, Orlando registra nas redes sociais todos os momentos do filho de quatro patas, que vão da rotina em casa até as horas no trabalho.
A satisfação em colocar os cães em um projeto tão especial exige dos donos um grande comprometimento, começando pelo curso de noções básicas sobre diversas atividades dos militares, como atendimento pré-hospitalar, salvamento e incêndio. O dono precisa desenvolver capacidade de auxiliar, caso seja necessário em alguma situação, explica Kalunga.
“O curso exige que acompanhemos os trabalhos dos militares na viatura de incêndio e também na viatura de resgate. Eu precisei acompanhar e não foi fácil presenciar algumas ocorrências”, lembra Caroline. Depois do curso, o dono fica também habilitado a participar do projeto junto com o cão”. Além do curso, também deixamos família, filhos e trabalho para fazer as visitas. Mas esse esforço vale cada segundo quando vemos a alegria daquelas crianças”, disse a jovem.
Seleção
Para fazer parte do time, os cães passam por uma seleção que vai apurar o perfil do animal e saber se ele é compatível com as atividades. Nesse caso, a função será aguentar puxões de orelha, de rabo, carinhos excessivos e todo tipo de contato com muitas pessoas e tudo ao mesmo tempo.
Sendo assim, ser dócil é um requisito básico para fazer parte da ação social, mas os cãezinhos precisam apresentar outras características importantes de temperamento. “Avaliamos inicialmente o temperamento do animal e seu comportamento. Mas a obediência ao dono é extremamente importante”, explicou o responsável pelas seleção.
Fazem parte do canil do Corpo de Bombeiros as raças Golden Retriever, Labrador, Dachshund, Dálmata, Border Collie, Spitz Alemão, Shitzu, Pitbull, Sheepdog, Cocke Spaniel, Spring Spaniel, Pastor Alemão, Pastor Suiço, além dos cães de busca: Blueheeler, Pastor Belga e Rastreador Brasileiro.
A intenção é expandir o projeto para outras cidades, já que apenas o Corpo de Bombeiros de Campo Grande e Coxim realizam o trabalho. Para a Capital, já existe uma lista de espera de cães que aguardam a seleção para ingressarem na ação.
“Esse trabalho é fantástico. Para nós é uma ótima terapia. Levamos ajuda para outras pessoas, mas é uma terapia para nós mesmos. É gratificante demais”, conclui o sargento Thiago Kalunga.
Luciana Brazil, Subsecretaria de Comunicação (Subcom).
Fotos: Edemir Rodrigues.