Diante de esforços integrados e do fortalecimento de políticas de prevenção, o número de mortes no trânsito em Campo Grande foi reduzido em 41,6%, entre o período de 2011 e 2020. Nas rodovias do Estado também foi possível comemorar a redução de 31,1% das vítimas fatais, no mesmo período citado. No entanto, apesar dos resultados positivos e das ações conjuntas, a necessidade de unir a sociedade ao trabalho permanente dos órgãos de trânsito segue sendo um dos maiores propósitos nas ações para redução de mortes e acidentes. O assunto, um alerta à população, foi um dos temas discutidos na Audiência Pública do Pnatrans (Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito), que aconteceu nesta quarta-feira (18.05), em Campo Grande.
A audiência foi realizada pelo Conselho Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Cetran) e teve como objetivo o debate de novas propostas de segurança para o trânsito, conforme as metas do Pnatrans. O secretário Nacional de Trânsito do Ministério da Infraestrutura, Frederico de Moura Carneiro, que participou do encontro, falou da exigência de integrar as ações de prevenção de acidentes entre os entes e a população, o que, segundo ele, será a única maneira de alcançar a redução no número de mortes.
“Para que a nossa política de prevenção chegue até o trânsito diário, é preciso que as ações sejam estruturadas de forma conjunta, havendo uma aliança entre a sociedade e os órgãos envolvidos. A sociedade precisa entender que sem ela não teremos um trânsito seguro. Precisamos, sim, de vias sinalizadas, de boas condições de tráfego, precisamos conhecer as realidades locais, entre outras responsabilidades. Estes fatores devem estar integrados com a população”, ressaltou Carneiro. O secretário apontou ainda o uso da tecnologia como um instrumento valioso no processo de identificar as possíveis causas de acidentes de trânsito, evitando que eles ocorram futuramente.

Presidente do Cetran, Regina Maria, Secretario de Justiça e Segurança Púbica, Antonio Carlos Videira, e secretário Nacional, Frederico de Moura Carneiro
Para o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, o encontro reflete o empenho do Estado, União e Municípios em reduzir os índices de mortes e acidentes de trânsito. “Precisamos estar atentos de forma constante na prevenção de mortes e acidentes de trânsito. Receberemos a Rota Bioceânica, um dos projetos mais importantes para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, e é necessário proporcionar segurança aos nossos usuários, tanto nas rodovias, como nas nossas cidades”, salientou Videira.
A presidente do Cetran, Regina Maria Duarte, explicou que a audiência pública estabelece uma conexão importante entre sociedade e órgãos de trânsito. “Visando a segurança nas vias e rodovias de Mato Grosso do Sul debatemos com a sociedade propostas para melhorar a qualidade de vida, oferecendo uma resposta mais eficiente aos trágicos números do trânsito brasileiro”, afirmou.
Conforme os dados do Gabinete de Gestão Integrada de Trânsito (GGIT) da Capital, 132 pessoas perderam a vida no trânsito de Campo Grande em 2011, em 2020 foram 77 óbitos, redução de 41,6%. Nas rodovias estaduais a redução de 31,1% também é reflexo do trabalho de fiscalização e conscientização realizado nas estradas.
O inspetor da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Luiz Alexandre Gomes da Silva, explica que a audiência pública é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de políticas que sejam verdadeiramente eficientes. “Este encontro é de suma importância para que possamos ouvir a sociedade e buscar, juntos, diminuir os índices negativos no trânsito. Precisamos do empenho de todos. A sociedade precisa fazer a sua parte, porque se o condutor não mudar seu comportamento não teremos um trânsito seguro”, frisou.
Garantindo que as ações de combate aos acidentes em Mato Grosso do Sul estejam alinhadas com o objetivo do Pnatrans, a PRF desenvolve diversas práticas que possibilitam a atuação intensa do policiamento. “Aquisição de equipamentos, o uso da tecnologia com acesso aos dados, novo sistema de multas e estudos diversos são algumas das condutas adotadas”, afirmou o inspetor.
Pnatrans
Criado em 2018, por meio da Lei nº 13.614, de 11 de janeiro de 2018, o Plano Nacional propõe um desafio para a gestão de trânsito no Brasil e para os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito. A meta do Pnatrans é, no período de dez anos (até 2028) reduzir no mínimo à metade o índice nacional de mortos no trânsito por grupo de veículos e o índice nacional de mortos no trânsito por grupo de habitantes.
O Plano se une às ações positivas já existentes em prol da segurança no trânsito, porém dá um passo adiante ao propor iniciativas pautadas em seis pilares fundamentais, permitindo a abordagem em diversas vertentes: Gestão da Segurança no Trânsito; Vias Seguras; Segurança Veicular; Educação para o Trânsito; Atendimento às Vítimas; e Normatização e Fiscalização.
O psicólogo Renan da Cunha Soares Júnior, – mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), pesquisador do Comportamento de Risco no Trânsito e doutorando em Psicologia da Saúde – participou do encontro e explicou que as metas do Pnatrans mostram como a sociedade está integrada no combate aos acidentes de trânsito. Segundo ele, muitos esforços já foram feitos na prevenção de mortes e lesões no trânsito, no Estado e na Capital. “Mas ainda temos muito trabalho a fazer. As ações governamentais são cumpridas. Precisamos de uma aliança com a sociedade para que tenhamos a abrangência das ações”.
Vida no Trânsito
Renan lembrou ainda que Campo Grande foi uma das primeiras cidades a implantar o Programa Vida no Trânsito (PVT), criado em 2010, pela OMS (Organização Mundial da Saúde). No mundo este projeto recebeu o nome de Road Safety in 10 countries (RS10) e estabeleceu o período de 2011 a 2020 como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, que tinha como meta, até 2020, reduzir pela metade as mortes e os ferimentos por acidentes em estradas. O Projeto recebeu no Brasil o nome de “Programa Vida no Trânsito” .
O PVT foi implantado inicialmente em cinco capitais – Curitiba, Belo Horizonte, Campo Grande, Teresina e Palmas – cada uma representando uma das cinco macrorregiões do país. “Muitas coisas já foram feitas na primeira década, mas ainda podemos melhorar e muito os nossos índices”, avaliou.
Dados
Em Mato Grosso do Sul, de 1º de janeiro a 15 de maio deste ano, foram registrados 86 homicídios culposos no trânsito, 626 lesões corporais no trânsito e 912 acidentes de trânsito. Entretanto, como resultado do trabalho de policiamento rotineiro e blitzes educativas, o número de ocorrências diminuiu em comparação com o mesmo período de 2021. A redução chegou 11,3% nos homicídios culposos no trânsito (97) e queda de 19% no total de acidentes de trânsito (1.126). O aumento ocorreu apenas nas lesões corporais no trânsito, com 1% a mais de ocorrências (619) .
Entre os anos de 2015 e 2019, os acidentes no trânsito ceifaram cerca de 100 vidas por dia no Brasil. Esta já é uma das principais causas de mortes no país. Para mudar o cenário, desde 2018, o país conta com o Pnatrans que tem como um dos compromissos a redução de pelo menos 50% das mortes no trânsito brasileiro até 2028.
Luciana Brazil, Sejusp
Foto: Bruno Rezende