Campo Grande (MS) – Preso desde 2007 no Instituto Penal de Campo Grande (IPCG), o reeducando José Carlos Santanta Júnior está conseguindo encontrar no estudo a oportunidade de escrever uma nova história de vida. No presídio, ele retomou as aulas do ensino médio e não parou mais, fez faculdade e agora cursa pós-graduação em Coaching e Liderança.
As aulas iniciaram há cerca de dois meses e acontecem pelo sistema de ensino a distância, por meio de uma parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a Universidade Católica Dom Bosco.
Conforme a Divisão de Educação da Agepen, José Carlos é o primeiro custodiado de Mato Grosso do Sul a cursar uma especialização de dentro de uma unidade penal de regime fechado e, provavelmente, um dos primeiros do País, apesar de ainda não haver um levantamento específico nesse sentido.
A pós-graduação é custeada pelo próprio interno com recursos conquistados com trabalhos desenvolvidos no IPCG e ajuda de custo da família, assim como ocorreu durante os dois anos em que estudou no curso superior de “Processos Gerenciais”. As aulas no ambiente virtual acontecem diariamente com uma hora de duração, “aliadas a muitas outras de leitura na cela”, segundo afirma o estudante. No total, serão 420 horas/aulas de curso, e a previsão é que seja concluído em maio do ano que vem.
A escolha pela área de Coaching, garante José Carlos, surgiu da vontade de “desenvolver competências e habilidades de liderança”, no sentido de aperfeiçoar o conhecimento conquistado durante a faculdade. “Acredito que estudando cada vez mais, terei mais chances de conquistar um bom trabalho quando estiver em liberdade, apesar do preconceito que sei que vou enfrentar”, afirma, revelando que pretende também se especializar em “Psicologia Organizacional”.
Ensino Superior
Apesar de o ensino em nível de especialização ser novidade nas unidades prisionais do estado, o oferecimento de ensino superior está se consolidando cada vez mais. No momento, 11 reeducandos cursam faculdade em presídios de MS, por meio de parceria com universidades privadas.
Desse total oito estão no IPCG, dois no Centro de Triagem e uma no Estabelecimento Penal Feminino de Rio Brilhante, participando de cursos nas áreas de Administração, Comércio Exterior, Processos Gerenciais, Gestão de Cooperativa, Gestão Ambiental, Pedagogia e Letras.
“Já temos também uma proposta junto à Universidade Federal da Grande Dourados para um polo do curso de Pedagogia na Penitenciária Estadual de Dourados, mas ainda não foi concretizada”, informa a chefe da Divisão de Educação da Agepen, Elaine Arima Xavier Castro.
Foco na educação
O foco na educação como meio de reinserção social é uma das principais linhas de trabalho do Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul, segundo o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia.
Um dos maiores desafios, explica o dirigente, está na formação inicial dos detentos, já que a maior parte deles chega ao sistema carcerário sem possuir o ensino fundamental completo. “Temos um percentual de 65% de nossos custodiados que pararam de estudar antes de completar o ensino fundamental e isso dificulta até mesmo o oferecimento de cursos profissionalizantes a eles”, comenta.
Dentro desse contexto, a Agepen em parceria com a Secretaria de Estado de Educação tem investido na ampliação do ensino, graças também ao esforço conjunto com outros parceiros, como os conselhos da comunidade, na construção de mais espaços destinados ao ensino.
Atualmente, 27 presídios do estado possuem salas de aula em funcionamento, com ensino regular oferecido pela Escola Estadual Polo Regina Anffe Nunes Betine, e um total de 1.418 reeducandos matriculados no primeiro bimestre do ano, desde a alfabetização ao ensino médio.
Keila Oliveira – Agepen