Campo Grande (MS) – Contribuir para elevação da autoestima e curar traumas ocorridos por abusos de violência, com esse objetivo foi realizado junto a internas do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ) o “Programa de Empoderamento a Vítimas de Abusos e Violência”. A iniciativa, concluída esta semana, fez parte de uma parceria entre a Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul, a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a Associação Pro-Eva.
O programa consiste na realização de 14 encontros de grupo, com o trabalho de uma equipe multidisciplinar composta por psicóloga, assistente social e pedagoga. As reuniões envolvem a realização de palestras, dinâmicas de grupo e compartilhamento de histórias, visando proporcionar novas perspectivas de um futuro sem violência e o melhor retorno ao convívio social.
No total, 15 reeducandas participaram dessa primeira realização. Flaiellen Castro Lopes, 20 anos, foi uma delas e garante que a iniciativa representa um recomeço em sua vida. “Quando eu cheguei aqui eu era uma pessoa muito fechada. Depois do projeto me sinto melhor, me sinto mais feliz. Me ajudou a perder o trauma que eu tinha, a perdoar as pessoas que eu deveria ter perdoado há muitos anos, e eu só consegui aqui. Assim como o projeto ajudou a mim, pode ajudar outras internas também”, declarou.
Presente na solenidade de certificação das custodiadas, o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, citou em discurso o texto bíblico: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45), destacando que “o que foi proporcionado pelo Pro-Eva é um bom tesouro”. “ Isso vai preencher os corações de vocês e, através desses bons tesouros, vocês serão melhores e eu creio que poderão ter um futuro muito diferente daqui para frente, quando saírem daqui”, disse.
Segundo o diretor-presidente da Funtrab, Wilton Acosta, o programa oportuniza para muitas pessoas que estão passando por dificuldades e precisam de uma ajuda para superar suas dores internas. “Não são dores físicas, são dores da alma, que ficam marcadas na gente, eu acho que cada pessoa merece uma oportunidade para ser tratada interiormente”, finalizou.
Para a coordenadora do projeto, psicóloga Giseli Oliveira, da Funtrab, essa parceria oportunizou a união de forças no sentido de proporcionar um “recomeço” para as internas, que acreditaram, se abriram e, principalmente, cofiaram. “Sem essa confiança esse projeto jamais teria o êxito que teve, jamais teríamos tocado o coração de vocês como nós sabemos que tocamos se vocês não nos tivessem permitido entrar”, falou às custodiadas.
Em discurso, a psicóloga lembrou, ainda, que foram muitas as histórias compartilhadas, lágrimas, risadas e “ressignificações” na vida. “Tivemos tantas compreensões sobre uma história que era horrível e tinha tudo para continuar horrível até o final, mas que vocês decidiram rescrever, decidiram dar um basta na história de tragédia, na história de violência, de ódio, de magoa, de rancor, de vingança, de tantas coisas ruins. Todo ser humano tem o seu lado sombrio, esse lado sombrio pode se transformar pelo amor e pelo carinho”, afirmou.
Conforme Giseli, novas turmas serão desenvolvidas no presídio feminino. O programa atende também custodiados da Casa do Albergado de Campo Grande, com internos que respondem pelo crime previsto na Lei Maria da Penha.
Keila Oliveira